segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Hephaestus Crew




Tem gente que gosta de assistir futebol com os amigos no fim de semana, outros de fazer um bom churrasco ou só beber umas cervejas e jogar conversa fora. Agora, tem uns caras ai que se juntam no fim de semana para dar porrada em pedaço de aço velho em brasa! Tenha dó! Não é muito mais simples assistir uma partida de futebol na tv?

Infelizmente tenho que dizer que conheço estes caras, que agora até se auto denominam “Hephaestus Crew”. Ficam escarafunchando ferros velhos a procura de rolamentos destruídos, limas velhas ou eixos de amortecedores com o simples intuito de tacar-lhes o malho. Seria mais seguro se ficassem bem comportados em frente de uma grande tela de TV.

Para vocês entenderem melhor vou explicar em mais detalhes a patologia. Está longe de ser um caso simples.

Há um método em toda esta loucura que não é novo, é uma artesania que data dos primórdios da civilização e, antes da revolução industrial, era o principal método de confecção de ferramentas.

Querer fazer coisas quando podemos confortavelmente compra-las prontas? E ainda usando técnicas ultrapassadas! Se quero uma faca, é só comprar no supermercado, em vez de ficar esquentando um pedaço de ferro a altíssimas temperaturas e tentando moldar uma faca com uma marreta!



Eles tem uma forja, um forninho metido a besta que faz um assado em uns cinco minutos, culpa do Rands que viabilizou o projeto. Tem uma mesa de ferro de cinqüenta quilos, sobre um toco de mais outros cinqüenta. Uns martelões de dois a meio quilo e umas pinças grandonas chamadas tenazes para pegar o aço que sai vermelho de tão quente da forja.

Ficam lá se revezando na tarefa de esquentar e martelar estes pedaços de aço, fazendo barulho, muito barulho. Malham o ferro até o braço não agüentar, e revezam na frente da forja, mantendo o mesmo ritual.

O grande culpado é o Greg, ele que vem a uns vinte anos( que eu me lembre) juntando livros e tralhas sobre este assunto, para fazer facas... Tem gente que tem o dom de fazer as coisas pelo lado mais complicado, mas se o Rands não tivesse entrado na estória, poderíamos estar calmamente vendo televisão, há uma dupla culpa. O pior é que tem até mulher malhando o ferro, dizer o quê?



Não consigo entender, fui pego desprevenido por conta de uma faca de cozinha que eu queria e não existe para comprar em lugar nenhum do mundo. Me fizeram desenhar um projeto, e cortar um molde em lata. A faca não ia se materializar sozinha, assim tive que pegar um eixo de amortecedor e sentar-lhe o malho para o transformar na minha faca dos desejos. Estou longe de cumprir meu objetivo e ficar livre destes loucos gauleses, o pior é que tem algo de viciante neste metal quente.

No começo era só porrada bruta, um segura e o outro senta a marreta com toda força, até o eixo brilhante de amortecedor parecer ume pedaço de ferro velho e chato. A partir daí o trabalho era só, tentar com uma marreta dar a forma de faca que desenhei no metal quentíssimo. Onde bater? Como bater? No começo o metal indócil se recusa a me obedecer, teimoso insisto em descer-lhe a porrada para que me obedeça e o teimoso cisma em me ignorar, bato mais, mais e mais. Chega um momento que você não pensa em mais nada, é você o metal e o fogo, todo o seu mundo é apenas isto. Mas o metal ainda teima em não obedecer as ordens que lhe dou com a marreta.



Aos poucos minha consciência vai se formando, um entendimento de onde bater para que o metal tome tal forma e a sensação do metal se curvando à sua vontade começa a tornar-se inebriante.

Sou o mais neófito destes loucos, agora catequizado e para piorar a figura ainda estamos compartilhando esta prática anormal com alguns malucos que podem se encontrar espalhados por ai.

Este é o primeiro post do “Hephaestus Crew”, um local para congregar pessoas e amizades forjadas no ferro.

Abraço,
Alê