sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Bater ou Cortar?



Apesar da mística de uma lamina forjada com sangue, suor e lágrimas, será que existem mais motivos para escolher-se o fogo à simples tarefa de recortar uma faca de uma chapa de aço? Do ponto de vista da artesania, uma faca recortada pode ter o mesmo esmero de seu criador. O que faz que mesmo nos tempos modernos a lamina gerada no fogo seja superior às outras? Que estranha magia é fundida junto ao metal que faz com que seu corte seja superior e mais duradouro? Será que são as palavras mágicas proferidas de maneira inaudível que se ligam ao metal quente e tornam o fio tão letal?

Tentando resolver estas e outras questões, me infiltrei no mundo do aço, nos segredos marciais guardados por Crom. O aço já foi o maior segredo militar, o topo em termos de armamentos letais, a diferença entre perder e ganhar uma batalha. Sob sua imponência espadas inimigas eram literalmente cortadas e caiam inertes nos campos de batalha com seus donos se esvaindo em sangue.

O fogo sempre foi a maneira tradicional de moldar o metal para fazer todos os tipos de ferramentas, antes da existência de equipamentos poderosos capazes de cortar metal, como torno, a fresa e outros.



Poucos restaram que dominam a arte do fogo e metal, o Rands teve a possibilidade de aprender com um senhor, já idoso, que fazia na forja até pé de máquina de costura. Segundo o que ele conta, este senhor possuía um arsenal de martelos, feitos pelas próprias mãos, de todos pesos e formas. Assim, a habilidade de anos de mestria no ofício, era capaz de rapidamente converter um pedaço de metal em uma peça com a mágica ajuda do fogo.

Não é à toa que a máquina moderna industrial não podia depender destes profissionais de treinamento tão árduo para produzir o monte de porcarias que consumimos nos dias de hoje, ia ficar tudo muito caro. Mas afinal, porque não existem métodos melhores e mais rápidos para a cutelaria? Pois como o nome diz, é no corte, no gume, o fio da lamina em que a forja reina suprema.



A cutelaria é a arte de fazer ferramentas de corte, e por algum motivo mesmo nos tempos modernos a técnica antiga ainda produz as melhores laminas. É uma alquimia onde devemos entender a própria natureza das coisas para desvendar o segredo da forja.

Vamos pensar um pouco, o que é uma lamina? Qual o motivo de cortar? Ela corta pois tem uma borda aguda, afiada. Os homens da caverna já afiavam pedras para ter o mesmo efeito, mas elas não cortavam tão bem quanto o metal. E o motivo está na própria essência molecular das rochas contra metais, o ferro e o aço. A borda aguda é capaz de concentrar a força em um ponto mínimo e assim penetrar outros materiais, partindo-os. Quanto mais fino o fio menor a força para cortar e a “finura” do fio vai depender do material do qual é confeccionada a lamina.

É na criação do fio mais fino que o metal forjado e temperado de acordo vai produzir as melhores laminas. Vamos imaginar que o aço tem grânulos, como se fosse feito de areia bem compactada, é só na forja que estes grânulos atingem densidade máxima, conferindo maior resistência ao fio. Muito duro ele quebra, muito mole ele dobra, tem que ter a tempera correta. Martelando o metal quente, nós aumentamos a densidade e temos um metal melhor para o corte, além disso, estes grânulos são de certa maneira desorganizados, o que pode ser ruim para a resistência do metal do ponto de vista estrutural, mas é ótimo para o fio.



Este foi o pouco que pude apurar da existência do ritual da forja, onde o aço é aquecido e martelado muitas vezes, eu sei que existem muito outros segredos que não ousam me contar, eu vejo o Greg murmurando palavras mágicas ao bater no metal, não me explicam nada. Verdade ou mentira, misticismo ou realidade, empunhar uma lamina forjada, feita a mão traz um algo mais que não posso explicar, mesmo que seja uma simples faca de cozinha. E como dizem: “ Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”.

Abraço,
Alê